O guarda-redes concedeu entrevista ao Porto Canal, Iker Casillas elogia Sérgio Conceição e lembra época do título, fala também sobre a mudança de hegemonia no futebol português…
Iker Casillas é uma das grandes figuras do FC Porto e concedeu uma entrevista ao Porto Canal, na qual falou sobre a sua chegada à Invicta em 2015, onde fez rasgados elogios à cidade que o alojou, elogiou Sérgio Conceição e lembrou época do título. O guardião espanhol falou ainda sobre a mudança de hegemonia no futebol português. Uma chegada com um Benfica no trono e um presente com um FC Porto mais forte.
Os elogios ao distrito que o recebeu: O Porto, Maia, Gaia e Matosinhos reúnem uma série de qualidade que são impressionantes.
Mudança para o Porto: Eu não estou arrependido da decisão que tomei há três anos e sou muito feliz. As razões para sair do Real Madrid foram muito complexas. Estava muito exposto à crítica e à opinião pública e eu necessitava a nível pessoal de estar tranquilo, e em Madrid não estava. Talvez por culpa minha, ou pelas pessoas que estavam ao meu redor. Dentro das possibilidades que tinha houve a possibilidade de rumar ao FC Porto. Não te posso mentir que ao início estava muito nervoso de sair de Madrid e ir para longe. Tive medo de sair de Espanha, mas por outro lado estava próximo. E sabia que vinha para um enorme clube. Quando aqui cheguei falava-se da hegemonia do Benfica, mas agora é o FC Porto que assume essa posição no futebol português.
Coração azul e branco: Agora sinto-me identificado com o adepto, com o sócio e com o clube. Foi uma enorme alegria vir para aqui. Os meus filhos já falam mais português do que eu.
Rendimento na primeira época de FC Porto: Não foi fácil. Vim para aqui e não tinha ninguém, salvo a tua mulher e algum amigo. Quando tu mudas de trabalho sabes que o início nunca é facil. Pouco a pouco comecei a sentir-me mais confortável.
Diferenças nos relvados portugueses: É verdade que em Portugal há campos muito bons, mas outros que não são assim tão bons. E eu gosto de jogar nesses campos, porque me faz recordar os tempos em que tinha 18 anos.
VAR: O futebol tornou-se mais honesto e começaram a existir menos erros. Ainda existem alguns. Recordo-me do FC Porto-Benfica em houve aquele aquele lance [golo anulado de Herrera] que não entendi…
Reencontro com Buffon na Champions: Acho que Gigi e eu, junto com Cech, os três que nos últimos 10/12 anos as pessoas mais observam e que estavam no pódio dos melhores guarda-redes. Sou muito amigo do Gigi, conquistámos grandes títulos, fomos importantes nos respetivos clubes. E somos referências para os novos guarda-redes como Oblak, De Gea, Courtois, Ter Stegen, Neuer…
O reencontro com Vítor Baía: Quando era pequeno ele era uma referência. Mesmo quando foi para o Barcelona. Ele e o Bodo Ilgner eram as referências mundiais. Era um guarda-redes espetacular. Lembro-me de observar como colocava as luvas, usava umas calças de aquecimento por baixo dos calções… Ao fim de anos defrontei-o, trocámos camisolas. Está nos cinco guarda-redes que mais gosto.
Entrada de Sérgio Conceição no FC Porto: A culpa de termos sido campeões foi do Sérgio. Ele monta uma equipa com vários emprestados e diz para todo o balneário desde o início – “Nós vamos ser campeões”. Ninguém dava nada por nós e provavelmente nas probabilidades das casas de apostas estávamos em terceiro. Fomos colhendo mais respeito dos nossos rivais.
Período em que ficaste sem jogar, após o jogo de Leipzig: Falei com o treinador, ele tinha outra opinião e via um guarda-redes melhor que eu. A mim custou-me, mas se não me doesse algo de estranho se passava. A mim custou-me a assimilar a situação nova [de ser segunda escolha], mas é uma nova situação para aprenderes.
Mudança de Casillas e as críticas da imprensa: Agora já não estou para brincar. Se queres falar de mim, fala. Mas se falas mal de mim ou algo de errado contra mim vou ao Twitter e vou responder-te. Estou a brincar, confesso. Mas a verdade é que quando tudo corre bem, ninguém opina nada.
Golo de Herrera no Benfica-FC Porto: Quando ele pegou na bola, disse que golaço. Quando saímos do Dragão para Lisboa os adeptos deram-nos muita energia. Era um jogo decisivo, para o Benfica, se ganhasse, era um passo decisivo. Um empate, o calendário seria mais favorável ao FC Porto, mas ganhando ficavas dois pontos à frente. Ainda por cima, da forma que foi. Na primeira parte sofremos mais do que devíamos, talvez a segurar o resultado, e quando parecia que ia acabar 0-0, o Herrera faz aquele golaço e a Luz fica toda calada. Não quis festejar porque ainda poderiam marcar um golo, mas recordo com entusiasmo. Tenho sido feliz na Luz.
O significado dos recordes: Gosto de ver que continuo a desfrutar do futebol e que estou a bom nível. Daqui a uns anos, olhando para trás, estarei mais contente com aquilo que estou a viver agora. O Real Madrid é o clube de referência e fui um privilegiado de jogar lá e conquistar tanto, tive a sorte de fazer parte da melhor seleção dos últimos 50 anos, e agora tenho a sorte de estar no FC Porto. Meu nome estará sempre ligado a estes clubes. Se, no futuro, for embaixador destes clubes ou da seleção, estarei orgulhoso. Daqui a cinco ou dez anos vir aqui ver um jogo, de preferência com o Real, ir a um restaurante e que as pessoas se lembrem não do campeonato, mas do bicampeonato e da Taça da Liga, que temos de conquistar de uma vez por todas.