A história e histórias do rap feito no Porto, e consequentemente a história da cidade desde as décadas de 1980/90, é o tema do documentário ‘Não consegues criar o mundo duas vezes’, que irá estrear-se este ano…
“O documentário, além de ser sobre a história de uma expressão artística e de um movimento cultural no Porto do final dos anos 1980/90 até hoje, acaba por ser também sobre a história de uma cidade”, disse um dos responsáveis pelo filme, Francisco Noronha, em declarações à Lusa.
Francisco Noronha e Catarina David começaram a preparar o documentário em março do ano passado. Além de trabalharem juntos, são “amigos há muito tempo” e um dos pontos que têm em comum é “o gosto pela música e em concreto pelo rap”. “Somos do Porto e crescemos a ouvir muito rap do Porto, a história do rap é um pouco a nossa história e a história da cidade”, referiu Francisco.
Neste momento, estão na fase de edição de horas de imagens, umas atuais e outras de arquivo.
“Focámo-nos mais em falar com as pessoas envolvidas na história, para [a] contarem”, referiu Catarina. Para complementar as entrevistas, têm imagens “filmadas nos dias de hoje” e material de arquivo, “muito cedido pelos artistas” com quem falaram.
Os dois recolheram testemunhos de bandas e rappers como Reunião das Raças, “uma das bandas mais características do início do rap no Porto”, Dealema (Maze, Mundo, Expeão, Fuse e Guze), Mind da Gap (Ace, Presto e Serial), L.C.R. (Nocas e Berna), Triângulo Dourado, Conjunto Corona (dB e Logos), Capicua, M7, Virtus, Deau e Minus. “Muitos deles já nem estão ativos atualmente”, referiram.
Da cidade mostram espaços que acharam “pertinentes” ou dos quais os rappers falaram “como importantes para a história do rap”.
Um dos “pontos fundamentais” fica do outro lado do rio Douro: Vila Nova de Gaia. “Porto e Gaia são irmãos gémeos nesse sentido. Há grupos que têm artistas das duas margens, caso dos Dealema”, referiu Francisco.
Em Gaia, Francisco e Catarina destacam a estação de comboios de General Torres, “onde paravam muitos miúdos que dançavam, faziam ‘breakdance’, começavam a rimar, faziam os primeiros graffiti” e o Hard Club [que inicialmente se situava em Gaia], “local importante para o hip-hop [movimento que inclui o rap, o ‘breakdance’ e o graffiti], com festas e concertos”.
Aldoar, “onde se criou uma ‘crew’ [grupo] muito importante” é também “um dos pontos fundamentais” da história do rap na cidade.
Também Matosinhos, “um ponto de origem onde tudo começa paralelamente com Gaia e onde havia o Cais 447 [bar/discoteca]” e a Maia estão entre os locais considerados importantes.
“O Porto é o centro, mas com as periferias muito ativas”, disse Francisco.
O objetivo de Catarina David e Francisco Noronha é estrear “Não consegues criar o mundo duas vezes” este ano.
As filmagens “estão concluídas”, agora falta “selecionar — das várias horas de material reunido – e chegar a um produto final” que agrade aos dois.
“Não podemos nem queremos avançar uma data, mas será este ano e o nosso desejo é que seja o mais brevemente possível, embora estejamos a trabalhar com calma”, referiram.