Preservar os pavilhões interiores do Bolhão, no Porto, é o objetivo de uma petição a correr desde 2015 pela mão da dupla de arquitetos “OldPortugueseStuff” que querem agora reavivar o debate sobre o projeto “muito transformador” de requalificação do mercado…
“Achamos que é importante atiçar o debate em relação à reabilitação do Porto e em relação a este tipo de coisas. Ao demolir-se o interior do mercado do Bolhão, estamos a perder um património enorme. É a alma do Bolhão”, defende Alexandre Gamelas, um dos arquitetos da dupla ‘OldPortugueseStuff’ hoje convidada pela associação Campo Aberto para um debate sobre o mercado.
Foi em 2015, depois da apresentação em abril do projeto de requalificação do Mercado do Bolhão, que Alexandre Gamelas e Catarina Santos criaram uma petição para “Salvar os pavilhões do Mercado do Bolhão” que até ao dia de hoje reuniu 1.700 assinaturas.
“Baseados nos aspetos do projeto que foram levados a público, receamos que haja um elemento esquecido no processo: as chamadas ‘barracas do Bolhão'”, pode ler-se na petição ‘online’ ainda disponível e onde se defende que “o projecto contemple a recuperação integral das construções existentes, o que inclui devolver-lhes os telhados em ardósia, pintar e reparar as caixilharias existentes e todos os elementos de carpintaria e serralharia, actualizando as infraestruturas interiores”.
Para os arquitetos, mais do que aumentar o número de assinaturas da petição, o importante é “chamar a atenção” e “se possível reverter este projeto” que inclui a demolição daquele que é um “elemento diferenciador”, explica Catarina Santos.
“Todos aqueles elementos que agora são conhecidos, que são os pavilhões, vão ser todos demolidos. Vai se perder um pouco a alma do Bolhão e é por isso que lançamos esta petição, achamos que é importante dar a conhecer e as pessoas têm uma palavra a dizer”, assinala.
Sobre a petição, conta, a opinião dos comerciantes tem sido muito positiva “porque as pessoas realmente consideram que as barracas devem ser mantidas” tal como “deve ser mantida a tradição e o interior do mercado do Bolhão”.
Quanto à população em geral, lamenta o “desconhecimento do que vai acontecer” dentro do mercado, razão pela qual importa levar o debate à cidade, começando por uma tertúlia sobre os pavilhões hoje organizada pela associação Campo Aberto e pela Associação Cultural em Estudos Regionais.
“Cada um de nós poderá ter a sua própria posição como cidadão individual. A associação em si não tem, mas à partida tudo o que valorizar o mercado e lhe trouxer maior dignidade, maior prestígio, maior pergaminho da antiguidade, embora renovado, para nós é positivo”, afirmou José Marques, da Campo Aberto.
A associação, explicou, pretende perceber quais as motivações que levaram a esta petição, sublinhando que a instituição não tem uma “posição nem a favor nem contra” a não ser o interesse em “debater e esclarecer” o tema para que posteriormente cada um possa formar a sua “opinião própria”.
Já para o representante da Associação Cultural em Estudos Regionais (ACER), Antero Leite, o atual projeto delineado para o Mercado do Bolhão “peca por ter pouco debate na cidade” e frisa a necessidade de um “melhor esclarecimento sobre uma questão que tem muito interesse para a cidade do Porto e para todos aqueles que conhecem o Bolhão há muitos anos”.
“O património não é imutável desde que se mantenha a identidade daquilo que se pretende defender”, afirma Antero Leite, acrescentando que não concorda com algumas “opções que desfiguram determinados edifícios, sobretudo a parte interior para aproveitamentos de habitação turística”.